Por Neide Diniz – Repórter Reafro
Uma noite chuvosa, um restaurante lotado, um cardápio com “afriquepetiscos” – e muitas outras comidinhas deliciosas – e ainda, inovação, tecnologia e afroempreendedorismo. Neste clima, quatro jovens negros, com os pés no futuro e antenados às necessidades de hoje, lançaram oficialmente a plataforma digital Diáspora Black. A primeira startup de hospedagem compartilhada dedicada à população negra visando favorecer o intercâmbio mundial. Uma opção para quem quer viajar e curtir o lugar como se estivesse passando férias na casa de amigos. Turismo sem a comodidade do serviço de quarto de um hotel, mas com a liberdade de poder fazer a própria comida. Seria como vivenciar a experiência de ser morador por um determinado período.
“A Diáspora Black é uma rede preta na Internet de valorização da nossa história, aproveitando a tecnologia para promover referências e encontros com a herança cultural”, diz Carlos Humberto da Silva, CEO da empresa e idealizador da atividade. A equipe responsável por transformar a ideia num negócio é uma sociedade entre amigos de diferentes profissões e estados. No final de 2016, desenvolveram uma versão beta – apenas com pré-cadastro – e, em julho deste ano, iniciaram a funcionalidade. De lá pra cá, as operações estão sendo aprimoradas e o objetivo é chegar em 2018 com a marca de 5 mil cadastros.
A viabilidade da startup tem o mérito de uma campanha bem sucedida de financiamento coletivo. As colaborações, que foram até março, ultrapassaram a meta de 15 mil reais e mobilizaram pessoas em mais de 10 países. O recurso serviu para investir na infraestrutura operacional, suporte e desenvolvimento do site. A Diáspora Black, além de fomentar a geração de renda na comunidade negra, tem o diferencial de apostar na economia compartilhada. Para isso, conta com o auxílio de dois projetos de aceleração: Pólen (Polo de Inovação) da Unisuam e Labora (Laboratório de Inovação), realizado em parceria com a Oi Futuro e a ONG Internacional Yunus Negócios Sociais.
A noite de lançamento também contou com apoio institucional da Câmara de Comércio Brasil/África. A Diretora de Negócios da Câmara, Daise Rosas Natividade, comprometeu-se em contribuir para a visibilidade da Diáspora Black inicialmente na Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e nos países africanos de língua portuguesa. “Estamos trabalhando para multiplicar os nossos executivos negros e ter expressividade também nas transações do comércio internacional”, enfatizou a Diretora. E, em seguida, declarou: “queremos que Diáspora Black seja um modelo de excelência para muitos outros empreendimentos mundiais”.
A startup também teve um incentivo privilegiado da Yalorixá, escritora e militante, Mãe Beata de Yemanjá. “Quando pensava em desistir, Mãe Beata não deixava e era uma das maiores entusiastas desse empreendedorismo, não poderia deixar de homenageá-la”, conta Carlos Humberto emocionado. O filho da religiosa, Adaiton Moreira, ao falar da homenagem póstuma, enalteceu o ventre da mulher negra e chamou Ruth Pinheiro, Presidente da Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro) e também do Cadon (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves), para receber a homenagem em nome de todas as mulheres negras. Ruth, surpresa e visivelmente comovida, disse: “é uma honra muito grande, agradeço imensamente. Mãe Beata, além de ser referência da nossa religiosidade de matriz africana, era uma mulher à frente de seu tempo, visionária e que trabalha pela coletividade, que os passos dela impulsionem cada dia mais a Diáspora Black”.
Como funciona a Diáspora Black?
Sabe aquele quarto vazio na sua casa ou até mesmo um imóvel, pode levá-lo a ser um anfitrião, denominação para quem se cadastra para receber hóspede pela plataforma. Tudo é feito pelo site http://www.diaspora.black: cadastro, intermediação com o viajante (usuário), reserva e pagamento. A segurança da transação é garantida pelo sistema Pay Pal, com validação da operadora financeira e checagem passo a passo do início ao encerramento da estada pela própria equipe da plataforma.
O historiador, Deri Santana (41 anos) casado com a fisioterapeuta, Hellena Hena Martinez (38 anos), moram em Saint-Pons-de-Thomières, no Sul da França e vieram ao Brasil para participar de um congresso da Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH). Aproveitaram a oportunidade para passar uma semana no Rio de Janeiro e utilizaram o serviço de hospedagem compartilhada. “Nesta Era que considero, Idade Mídia, acredito no potencial desses dispositivos que permitem o nosso deslocamento no mundo com orçamentos menores e com muito mais contato e afeto”, pontua Deri. E com a mesma motivação, Hellena relata: “temos o costume de viajar e ficar em casas de conhecidos ou de amigos dos amigos, assim conhecemos: Benin, Marrocos e Tunísia”. Juntos há seis anos, eles apoiam incondicionalmente a iniciativa e nunca passaram por alguma experiência negativa neste contexto. No entanto, admitem que conhecem casos de racismo em hospedagens.
Episódios de rejeição étnica permeiam outras plataformas desse seguimento e inclusive, fazem parte de pesquisa acadêmica. A Universidade de Harvard, concluiu que os usuários negros têm 16% menos chances de serem aceitos ou receberem hóspedes nesses serviços. “São muitas situações. Numa delas, fui comprar frutas para meus hospedes e quando retornei havia um recado na porta dizendo que ‘não era bem o que esperavam’. Entendi que não gostaram de ser recepcionados por um anfitrião negro, o que ficou evidente no primeiro contato”, relata o empreendedor Carlos Humberto, sobre a experiência vivida em 2011 e que foi o pontapé para a existência de Diáspora Black.
O evento aconteceu no Dida Bar e Restaurante, na Praça da Bandeira, Zona Norte do Rio de Janeiro, empreendimento parceiro da Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro).
Postagem: 08.08.2017
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